Parece que as editoras brasileiras estão redescobrindo Will Eisner. Nos últimos dois anos, várias de suas graphis novels foram republicadas em edições grandes e luxuosas: Um Contrato com Deus, Fagin, O Complô, Pequenos Milagres, Avenida Dropsie e até o tratado Narrativas Gráficas estão de volta à praça, fazendo a alegria do fã de quadrinhos que, assim como este articulista, considera Eisner o melhor quadrinista de todos os tempos.
O Sonhador (Devir Livraria, 55 páginas, tradução de Marquito Maia) é a última novidade dessa enxurrada. O cenário é a Nova York pós-Grande Depressão dos anos 30. Ali vive um jovem desenhista, Billy Eyron, que sonha em se entrar para o concorridíssimo mundo das histórias em quadrinhos americanas. Verdadeiro boom de público (mas não de crítica), os quadrinhos eram, naquela época, a bola da vez para quem insistia em ser artista numa época de pobreza e desemprego. Bastava baixar um pouco as expectativas, se adaptar às exigências do mercado e trabalhar muito. É o que acontece ao jovem idealista Eyron: logo ele se defronta com a crueza de um mundo cheio de competição, inveja, corrupção e mentira, algo muito diferente do que esperava encontrar. Mesmo assim ele segue em frente, com a típica esperança dos sonhadores.
O livro é claramente autobiográfico: Eisner começou a escrever na mesma época e lugar e enfrentou sérias dificuldades para sobreviver no início de sua carreira. Por isso ele avisa, no prefácio a O Sonhador, que imaginava escrever um livro de ficção mas acabou fazendo um relato histórico a partir do “armário desordenado onde se guardam os fantasmas do passado e das lembranças amareladas da experiência”. Se isso é verdade, o sonhador Bill Eyron, que, com seus desenhos debaixo do braço, desviava das poças d´água das ruas de Nova York com a mesma dificuldade que driblava as durezas da vida, pode descansar em paz: seu sonho foi realizado.
Discussão
Nenhum comentário ainda.