Os dois tipos básicos de leitor que acompanha os lançamentos literários – o acadêmico especializado e o competente aficcionado que Borges qualificou certa vez, falando de si mesmo, de “hedonista” – podem divergir em pontos fundamentais de sua atitude perante o texto, mas provavelmente concordarão sobre a relevância e a qualidade de uma obra como “De santos e sábios” (Iluminuras, 328 páginas). Afinal, é a primeira vez que os ensaios, conferências, artigos de jornal, entrevistas, reportagens, anotações, cartas e escritos de juventude do autor de “Ulysses”, produzidos ao longo de quatro décadas de incessante trabalho, são publicados em língua portuguesa num só volume.
E concordarão porque, fundamentalmente, os integrantes destes dois grupos – sendo desnecessário dizer que uma mesma pessoa pode, em momentos e circunstâncias diferentes, fazer parte de um e de outro – são plenamente atendidos por ele: o primeiro grupo – o dos acadêmicos especializados – encontrará o primeiro texto de Joyce que se conhece – “Não se deve confiar nas aparências” – resenhas, notas e comentários de livros publicados em jornais irlandeses e até uma entrevista com um automobilista francês, conduzida pelo escritor quando foi repórter do “Irish Times”. O segundo grupo – o do leitor aficcionado, o “hedonista” – terá o prazer de ler páginas como “Irlanda, ilha dos santos e sábios”, uma belíssima introdução à cultura e à história de seu país (e que, como se vê, dá título ao livro), artigos sobre seus companheiros de panteão Wilde, Shaw e Blake e textos sobre a conturbada história política irlandesa, suas relações com a Inglaterra e com o restante do Ocidente. Tudo entremeado por comentários e notas e seguido de ensaios – todos excelentes – dos responsáveis pela edição. Uma obra importantíssima.
Onde encontrar:
Discussão
Nenhum comentário ainda.