Toda edição de obras completas de um escritor famoso traz um volume dedicado à sua correspondência. É natural. Tantas são as interpretações, boas e más, a que um clássico está sujeito – é clássico justamente por isso, porque permite interpretações – que, no meio delas, é importante ouvir a voz do autor para coibir certos excessos imaginativos da crítica.
No caso de um escritor como J.R.R Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, esse procedimento é especialmente importante. Sendo Tolkien o criador não apenas de uma história , com personagens, enredo, temática e sentido, mas de um universo inteiro, povoado por humanos e seres fantásticos, com histórias e línguas próprias, a distância que o separa da moderna ficção ocidental é considerável. Consequentemente, também é grande a quantidade de interpretações derivadas do estranhamento , além de muitas dúvidas sobre outros aspectos da obra. As Cartas de J.R.R Tolkien traduzidas para o português pelo estudante gaúcho Gabriel Brum, servem para cobrir essa lacuna e ajudar a entender melhor a singular obra do autor inglês. Nessas cartas, endereças a amigos, familiares, editores e outros escritores, descobrimos que Tolkien detestava a ficção contemporânea, era grande apreciador de épicos e sentia-se mais influenciado por eles do que pelos grandes nomes da literatura inglesa, como Dickens, Shakespeare ou Sterne, e também pelo cristianismo, fruto de sua formação católica.
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