Desceram o corpo da Cruz, e um homem rico – um dos poucos entre os primeiros cristãos – obteve permissão para enterrá-lo em seu jardim. Os romanos puseram ali uns guardas, prevendo alguma revolta ou tentativa de recuperar o corpo. (…) Pois, naquela caverna, toda esta grande e gloriosa humanidade a que chamamos “Antiguidade” estava reunida e encoberta; e naquele lugar foi enterrada. Era o fim de algo muito grande; algo chamado “história humana” – a história do que era meramente humano. Ali estavam sepultadas as mitologias e as filosofias, os deuses, os herois e os sábios. Como diz a grande frase romana, eles haviam vivido. Mas, assim como podiam viver, podiam morrer. E morreram.
Ao amanhecer do terceiro dia, chegaram os amigos de Cristo, e encontraram a pedra levantada e o sepulcro vazio. De várias formas, deram-se conta da nova maravilha. Mas, mesmo a eles, seria difícil entender que, naquela noite, um mundo morria. O que eles contemplavam era o primeiro o dia de uma nova criação, com um novo céu e uma nova terra. E, com aspecto de jardineiro, Deus caminhou mais uma vez pelo jardim – não no frio do anoitecer, mas no do amanhecer.
– O Homem Eterno (1925)
Que escolha maravilhosamente humana e divina de texto, Celso.
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