O quadro “Mateando”, da artista Yassmine Uequed Pitol, inspirou uma belíssima pajada do poeta gaúcho Arabi Rodrigues. Vale a pena lê-la:
Um mate, feitio caseiro
tem sabor de pampa largo
e a consciência do encargo
de cuidar do pago inteiro.
-Quem ceva, sorve o primeiro
à frente dos convidados.
O ritual dos desgarrados,
possui conceitos fraternos,
templado ao frio dos invernos,
à mão dos abnegados.
A cuia, segue o ritual
pelo “lado de laçar”.
quem chega, tem ficar
a esquerda do “pedestal”.
-Por favor, não leve a mal,
tem que esperar tua vez,
escutas com altivez,
o que o outro, irá dizer,
para melhor compreender,
as razões dum camponês.
Mate, bebida sagrada,
sangue verde da querência;
que guarda na sua essência,
rufar de cascos, Arrancada,
céu de pátria, proclamada
ante a mão do Soberano.
Mate amargo, campejano,
descendência guarani,
nasceu e cresceu aqui,
no chão do vento minuano.
Mate amargo, tradição,
tão viva, quanto a bombacha.
“No grito de vai, ou racha”,
conserva a alma do chão;
réstia de luz, um brasão
onde a Capital se estriba,
mergulhando no Guaíba,
quando dia se desgarra,
como corda de guitarra,
“bien templada, un punto arriba”.
Me agrada, quando clareia
ao rosicler da manhã;
reverenciar o meu clã,
ao pé d’antiga candeia,
aonde o corpo mateia,
co’a alma dos ancestrais.
Palavras, toques, sinais,
ante o altar da memória.
Mate Amargo, nossa história,
na comunhão do Iguais.
N. casa do rio, junho, 25/20
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