A derrubada da estátua de Ariano Suassuna, registrada no Recife, há quatro dias, tem todos os ingredientes para inspirar todo tipo de teoria conspiratória. Um fato fundamental das teorias conspiratórias é o persistente “por que” associado a um fato: por que ocorreu? A quem beneficia? A falta de respostas enseja hipóteses de todo tipo – e, dessas hipóteses, surgem as teorias conspiratórias.
Os elementos estão postos. Um ícone da cultura brasileira, um nacionalista, um defensor ferrenho das língua portuguesa, um iberista, um ibero-americanista – este foi Ariano. E o ataque à estátua de Ariano não foi isolado. Trouxe um brinde: a semi-destruição de outra estátua, a do poeta João Cabral de Melo Neto, que teve o nariz despedaçado. Também João Cabral foi iberista, ibero-americanista, nacionalista, brasileiro pleno e irremediável. Foi, como Ariano, poeta.
O poeta, na conhecida definição Ezra Pound, é a “antena da raça”: cabe a ele catalisar e pôr em relevo as vibrações do momento, oriundas dos homens, das coisas e das relações entre os homens e as coisas. A quem interessa atacar duas “antenas da raça” do Brasil? Não temos respostas. Restam, contudo, as hipóteses – que já são perturbadoras.
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