A imagem acima reproduz a capa da edição dominical do “The Times”, de Londres, do último dia 24.
Não é fácil para um jornal conservador, tradicionalmente ligado aos interesses da Coroa, pôr em dúvida a unidade da Grã-Bretanha em sua chamada de capa. O “Times” fala de um “Reino Desunido” para o seu leitor – que é, em grande parte, um ardoroso defensor da ultra-nacionalista aventura do Brexit, o processo de auto-exclusão da União Europeia que o governo Boris Johnson encampou há alguns anos e completou no começo deste ano. O “Times” é um espaço de patriotas britânicos, orgulhosos do Império e inimigos da maioria das modas politicamente corretas e internacionalistas; é, portanto, um espaço para quem acredita na União.
Mas o título não fala de união, e sim de desunião. O que tem ocorrido na Grã-Bretanha, para que até o “Times” venha com essa chamada de capa tão amarga?
O Reino Unido é composto por quatro nações: a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e a Irlanda do Norte. Seus começos datam de 1707, quando a Escócia integra-se à Inglaterra e ao País de Gales – já unidos desde o século XIV – e cria a Grã-Bretanha. Sua formação definitiva se deu em 1801, com o Ato de União, em que a Irlanda, então possessão colonial, passa a integrar de jure o governo de Londres.
Não se diz “governo de Londres” gratuitamente aqui: a Inglaterra, ao fim e ao cabo, é o centro nervoso do Império. E os demais países integrantes sabem perfeitamente disso: com 56 milhões de habitantes, os votos dos ingleses são mais do que suficientes para superar quaisquer decisões de escoceses, galeses e norte-irlandeses. A insatisfação, que sempre existiu, vem aumentando com o Brexit. O resultado é o aumento do número de galeses, escoceses e norte-irlandeses que buscam a separação. Pesquisas recentes informam que 55% dos escoceses, por exemplo, deseja ser um Estado independente , percentual que se repete nos outros países constituintes da União. Pela primeira vez desde que foi formado, o Reino Unido enfrenta uma séria ameaça interna.
O alerta está dado. E é um alerta que vem de um jornal que apoia o Império. Boris Johnson faria bem em escutá-lo.
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