Ninguém diria que Bobby Sands seria um revolucionário. A maioria dos que o conheceram na infância e adolescência descrevem-no como um rapaz doce, divertido e tímido, que gostava de tocar violão e jogar futebol nos campos de sua cidade natal, Belfast, capital da Irlanda do Norte, cidade então devastada pela guerra civil entre católicos e protestantes.
Como todos os jovens católicos de sua época e local, tímidos ou não, doces ou não, conheceu a perseguição, a discriminação e a violência: aos 11 anos, teve sua casa incendiada por terroristas protestantes e foi obrigado a mudar de bairro; aos 15 anos, quando começou a trabalhar, foi repetidamente demitido das empresas onde esteve por ser um “taig”, gíria derrogatória usada por protestantes para se referirem os católicos.
Mais tarde, Sands diria: “sou apenas um garoto pobre do gueto, mas a repressão criou em mim um espírito revolucionário”. Aos 18 anos, ingressou no Exército Republicano Irlandês, o IRA. Em 1976, ele e outros camaradas foram presos. Nas celas geladas de Long Maze, tomou contato com o pensamento anti-imperialista do Terceiro Mundo dos anos 60 e 70. Seus favoritos não eram irlandeses – não eram sequer europeus: Franz Fanon e Che Guevara. A afinidade era natural: a sua Irlanda era, então, um país pobre, agrário e atrasado, uma verdadeira representante do Terceiro Mundo em plena Europa.
As condições na prisão eram péssimas. Desde o primeiro dia, Sands e seus companheiros denunciaram os maus tratos e iniciaram diversos protestos. Em 1981, ele e outros 10 camaradas iniciaram uma greve de fome. A de Sands durou até o dia 5 de maio , quando veio a falecer. O menino de Belfast virou mártir e seu rosto sorridente hoje estampa camisetas, bottons, adesivos e perfis de Facebook e Twitter. Como seu ídolo Che, o mito Sands sobreviveu à morte violenta.
Discussão
Nenhum comentário ainda.